domingo, 17 de fevereiro de 2008

RESSURREIÇÃO DOS "MORTOS"

Autor: José Wilson Malheiros

Quando criança, aprendi que um dia vai chegar o Juízo Final, quando todas as pessoas que estão mortas, jazendo, dormindo, num eterno descanso, por séculos e séculos, finalmente irão ressurgir e, por um milagre seus corpos serão reconstituídos, sendo, portanto, recompostos exatamente no mesmo formato que possuíam quando estavam ainda "vivos" aqui na Terra. Vão sair da sepultura lindos, perfumados, felizes.
Hoje, aprendi a respeitar as crenças de quem não concorda comigo, mas não abro mão de também expor o que penso a respeito, após haver lido bastante sobre o assunto, inclusive a Bíblia.
É frontalmente aberrativo, é definitivamente contra a lógica e a ordem natural das coisas, admitirmos que a ressurreição dos que já faleceram ocorrerá como ensinam algumas religiões onde a fé cega impera - muitas vezes a serviço da dominação de seus líderes.
Ora, raciocinem comigo. Quando morremos, nosso cadáver entra imediatamente em decomposição. Vai servir de adubo, volta ao "pó de onde veio". Os elementos químicos do nosso corpo, após a morte física, vão servir de nutrientes para soja, tomate, pepino, repolho e para outras plantas, dentro, é lógico, da máxima - sempre atual - de Lavoisier de que nada se cria, tudo se transforma.
Nós mesmos, que estamos vivos, vamos consumir, em nossas refeições, proteínas e enzimas deixadas pelos corpos de nossos irmãos falecidos, no seio, no solo do planeta terra.
Parem e meditem um pouquinho só e verão que falo sério!
Ora, então vejam o absurdo da idéia que afirma que os mortos vêm, depois de séculos e séculos, exigir como propriedade sua os elementos químicos, materiais de seus corpos, já incorporados à natureza: às árvores, aos animais, aos humanos, rios, lagos , terra, ar etc.
Pela Lei Natural a concepção, a fabricação de um corpo humano precisa da união sexual entre homem/mulher, quando o esperma masculino vai em busca de fecundar o óvulo feminimo, sem falarmos, hoje, das fertilizações "in vitro".
Que fórmula teria que utilizar o nosso Pai Eterno para recriar esses corpos já totalmente desintegrados na poeira do tempo?
Deus criou sua Lei que faz parte Dele mesmo, de Sua imutabilidade. Mudar a ordem natural das coisas seria mexer com o próprio Criador que - mudando-se, não seria mais Ele.
Pensem!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu, em que pese todo o respeito deferido às crenças e crendices que existem, também manifesto minha opinião relativa às regras e ensinamentos postos por nossos mentores intelectuais na infância. Também não acredito na textualidade das palavras bíblicas que referem ao juízo final. Entretanto, sabemos que a Bíblia sagrada é o livro de ouro das metáforas. Assim sendo, que complexo conteúdo semântico se esconde pelas linhas palimpsesticas do livro sagrado? Lendo a edição que traz uma conversa entre Einstein e Tagore intuí que existe um ponto de interseção inevitável entre o poético o religioso e o científico. Assim sendo, ao fim e ao cabo, a imutabilidade proposta por Lavoisier, o fiasco da alquimia, o quiasmo da física quântica, o obscurantismo da teoria de campo unificado, a eterna e frustrada busca pela simetria, o desvirtuamento dos ensinamentos de Hyppolyte Leon Denizard Rivail... Conduzem-me a pensar que o juízo final – se ocorrer - será algo parecido como o momento do despertar de um sono magnético a que chamamos de vida. Ainda assim, não acredito nessa versão linear do tempo. Acho que a linearidade temporal é apenas uma limitação de nossa consciência genética, que não consegue conceber nada que não tenha princípio, meio e fim. Acredito sim que esta vida é o simulacro de algo superior, e que, por algum motivo ignoto, estamos aqui a espera do retorno para a realidade superior, matriz deste simulacro. Embora este pensamento seja meio platônico, tem norteado minhas inquietações.
shirlei florenzano figueira